Contadores de Trump dizem que dados de empresa do político não são confiáveis
Uma empresa de contabilidade que presta serviços há anos para as empresas da família de Donald Trump (foto) decidiu encerrar, na semana passada, seu vínculo com os negócios do ex-presidente americano. O desligamento se dá em meio às investigações que apuram uma suposta distorção do valor das propriedades da família do político para obtenção de benefícios financeiros.
Conforme destaca a procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, a Mazars USA informou no último dia 9 à Trump Organization que não considerava mais confiáveis as declarações financeiras de junho de 2011 a junho de 2020 da empresa do ex-presidente. A firma ainda recomendou que o grupo informasse essa classificação a quem venha a receber os registros.
A Mazars destacou que não concluiu que os relatórios como um todo tenham “discrepâncias materiais”, mas alegou que sua decisão foi tomada “com base na totalidade das circunstâncias”. De acordo com a firma, a conclusão foi fundamentada por um documento de janeiro da procuradoria e por investigações próprias.
Mesmo que os relatórios tenham sido adulterados, a empresa de contabilidade, segundo informou o jornal The New York Times, não deverá ser responsabilizada -isso porque os mesmos documentos incluem uma série de isenções de responsabilidade, incluindo reconhecimentos de que os contadores de Trump não auditaram nem autenticaram suas declarações.
Em comunicado publicado nesta segunda-feira, Letitia James, que é filiada ao Partido Democrata, comentou a decisão. “As evidências continuam a aumentar mostrando que Donald Trump e a Trump Organization usaram demonstrações financeiras fraudulentas e enganosas para obter benefícios econômicos”, escreveu.
A procuradora também defendeu a legitimidade do pedido para que o ex-presidente e seus filhos Donald Trump Jr. e Ivanka Trump deponham sobre o caso, o eles vêm tentando evitar. Em dezembro, o republicano entrou na Justiça contra Letitia, alegando que ela violou seus direitos ao realizar uma investigação com objetivos políticos. Desde então, ambas as partes travam uma batalha jurídica.
Caso seja obrigado a depor, Trump e seus filhos precisarão responder a questionamentos sob juramento.
Ainda no ano passado, Letitia chegou a anunciar sua candidatura a governadora do estado, semanas depois de ter supervisionado uma investigação que apontou que o então chefe do Executivo, Andrew Cuomo, havia assediado sexualmente ao menos 11 mulheres. Ela, porém, voltou atrás da decisão e anunciou que não concorreria ao pleito.
Ao todo, segundo a investigação sobre os negócios da família Trump, seis propriedades tiveram valores distorcidos, entre as quais clubes de golfe em Aberdeen, na Escócia, e Westchester, próximo a Nova York. Também aparecem na apuração uma mansão no mesmo condado de Westchester, edifícios em Wall Street e na Park Avenue, em Manhattan, além de um tríplex na Trump Tower.
A suspeita é de que os valores dos imóveis tenham sido alterados para obter empréstimos bancários ou reduzir impostos a serem pagos. De acordo com a procuradora, as cifras distorcidas foram apresentadas a credores, seguradoras e à Receita Federal. A principal fonte das informações que sustentam a acusação é justamente as declarações anuais de condição financeira dos envolvidos.
No caso do apartamento na Trump Tower, o ex-presidente teria afirmado que o tríplex tinha 2.787 metros quadrados, estimando-o em US$ 327 milhões. Segundo a Procuradoria, o apartamento tinha pouco mais de mil metros quadrados. Mais tarde, um diretor financeiro de longa data de Trump reconheceu aos investigadores que a empresa havia supervalorizado o apartamento.
Nem o ex-presidente nem seus filhos foram acusados na esfera criminal, uma vez que a investigação da Procuradoria é civil. Ainda assim, Letitia pode processar Donald Trump e sua empresa para que eles sofram penalidades financeiras.
Em outra frente de investigações -esta, porém, criminal- a Promotoria Pública de Manhattan, comandada por Alvin Bragg, também vem contando com a cooperação da Mazars, sendo que o principal contador de Trump já testemunhou perante o júri.
A defesa de Donald Jr. e Ivanka, por outro lado, alega violação de direitos constitucionais, uma vez que as duas investigações apuram fatos semelhantes. (Folhapress)