Conta de luz vai continuar alta mesmo com reservatórios mais cheios
Mesmo com a recuperação do nível de água nos reservatórios das hidrelétricas devido às fortes chuvas, a conta de luz dos brasileiros não deverá sofrer redução nos próximos meses e, de acordo com resolução do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) nesta quarta-feira, continuarão em vigência medidas de emergência para garantir o fornecimento de energia.
A principal prevê um limite de 15 gigawatts médios (GW médios) para a contratação de energia por termelétricas e de geradoras de outros países. Além disso, só poderão ser acionadas as térmicas que cobrarem, no máximo, R$ 1.000 por MWh (megawatt-hora).
Durante o ápice da crise, o país chegou a adquirir energia das térmicas e até de países vizinhos por mais de R$ 2.000 o MWh, quase dez vezes mais que o preço de referência. Isso sobrecarregou todo o sistema elétrico que, no momento, enfrenta um descompasso de R$ 14 bilhões decorrentes desses preços mais elevados.
Por isso, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou em entrevista ao jornal O Globo que a tarifa extra cobrada na conta de luz, a chamada bandeira tarifária de escassez hídrica, continuará em vigor até abril deste ano. Por ela, cada consumidor paga R$ 14,20 a mais a cada 100 kWh consumidos.
A medida será necessária para compensar a falta de chuva nas regiões Sul e Sudeste que, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema), ainda compromete o nível de água dos reservatórios das usinas.
A pior seca dos últimos 91 anos fez baixar tanto o nível dos reservatórios, que o CMSE foi obrigado a reduzir a vazão de água nas turbinas de diversas hidrelétricas como forma de preservar a água caso ocorresse um agravamento da seca.
Por isso, foi autorizada pelo governo a geração de energia elétrica por usinas térmicas que passaram a cobrir o déficit das hidrelétricas a um preço exorbitante. Também houve importação de energia do Uruguai e da Argentina, o que encareceu demasiadamente a conta de luz dos brasileiros desde outubro de 2020, quando começaram esses despachos.
A tarifa da escassez hídrica foi criada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em agosto do ano passado para cobrir a alta desses custos que, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, veio pressionando a inflação a ponto de estourar o centro da meta definida pelo BC para o ano passado -entre 2,25% e 5,25%. A inflação medida pelo IPCA foi de 10,06% no período.
O cenário, no entanto, tende a melhorar. As chuvas fortes registradas nas últimas semanas desde meados de outubro fizeram subir os reservatórios do país, mas eles ainda se encontram longe da zona de conforto, especialmente nas bacias hidrográficas do Sudeste e Centro-Oeste, conhecidas como a caixa-d’água do setor.
Segundo o ONS, em setembro de 2021, o nível dos reservatórios dessas regiões chegou ao ponto mais baixo -16,75% da capacidade total. As projeções agora indicam que chegarão ao final de janeiro com 40%. Em janeiro do ano passado, era 23,36%.
As projeções do ONS apontam que haverá recuperação dos reservatórios do Norte (que chegarão a 73,2%) e Nordeste (70,2%). No Sul haverá retomada, mas em patamares menores do que no mesmo período do ano passado devido às chuvas, ainda escassas na região.
A expectativa do CMSE é que o armazenamento nas regiões Sudeste e Centro-Oeste chegue a 47,1%, em junho de 2022 -muito acima dos 29,1% registrados em 30 de junho de 2021.
“Considerando a repetição do cenário crítico de chuvas verificado no período chuvoso de 2020/2021, ilustrando que a recuperação dos reservatórios das usinas hidrelétricas está em andamento”, disse o CMSE, em nota. (Julio Wiziack – Folhapress)