Chuva em SP deixa rastro de guerra em Franco da Rocha
O tradicional bazar de terça-feira da Igreja Cristo Ressuscitado, no Centro de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, terá de ser cancelado por força maior neste dia 1º. Não vai ter mercadoria para venda. Todas as roupas recebidas por doação se perderam com as fortes chuvas que castigam a cidade desde o fim de semana.
Em Franco da Rocha pelo menos oito pessoas morreram em um deslizamento de terra no parque Paulista, no limite com Francisco Morato. De acordo com os bombeiros, há relatos de cerca de dez desaparecidos.
As roupas do bazar estavam no salão paroquial da igreja, onde a marca da água chegou a um metro de altura.
“Já fiz umas 25 viagens com um carrinho de supermercado cheio de roupas que serão jogadas no lixo”, afirmou o voluntário Rick Wesley Costa Soares, 24.
Segundo ele, a igreja também teve que descartar sacos de arroz e café e litros de óleo, entre outros, que seriam usados para montar cestas básicas destinadas à doação.
A imagem da montanha de roupas sujas de barro na calçada da avenida Liberdade era o reflexo do cenário de guerra do centro de Franco da Rocha nesta segunda-feira.
Por volta das 16h, quando a chuva deu uma das poucas tréguas no dia, as calçadas do entorno da estação da linha-7 rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) estavam cheias de gente com mangueira e rodo nas mãos.
Ao mesmo tempo, funcionários da prefeitura tentavam lavar o que ainda não continuava tomado pela água da chuva, como a delegacia da cidade.
Perto do distrito policial, a empresária Maria Onoe reuniu a meia dúzia de funcionários de seu restaurante japonês para uma faxina que não tem data para terminar. Praticamente foi tudo perdido por causa da chuva.
Segundo Onoe, as geladeiras estavam tombadas quando ela abriu as portas pela manhã, a cozinha revirada e as mesas com marcas d’água. Nem o computador do caixa salvou.
“Temos seguro, mas ainda não sei se vão cobrir os prejuízos, e nem faço ideia de quanto será”, afirmou.
A empresária foi avisada nesta domingo (30) sobre a inundação pelo irmão, dono de uma barraca na feira que funciona quase em frente e que precisou sair correndo. Até o fim da tarde dessa segunda havia frutas dos feirantes espalhadas pela sargenta.
E a preocupação de Onoe não para na reconstrução do restaurante. Um morro atrás do estabelecimento deslizou e, além de pressionar a parede dos fundos, encobriu de terras dois botijões de gás de 40 kg cada.
A empresária disse que procurou a Defesa Civil municipal, mas que não foi atendida porque no seu caso não havia vítimas. Procurada, a prefeitura não respondeu até a publicação desta reportagem.
Onoe dividia equipamentos de limpeza com a vizinha Daniela Lima Dalton, dona de uma oficina mecânica onde cinco carros de clientes ficaram encobertos de água até o capô do motor.
Os veículos foram rebocados por um jipe, na manhã desta segunda, para a garagem de sua casa, onde passariam por reparos e limpeza. “Em 2016 ou 2017 também inundou aqui, mas não desse jeito, foi tudo muito rápido”, afirmou.
A dona da oficina imagina que irá gastar R$ 25 mil. Bem menos que os R$ 2 milhões de prejuízo calculados pela unidade de Franco da Rocha da rede Marabraz. Os móveis novos espalhados pelos cerca de 700 m2 do salão foram totalmente perdidos.
“O que não foi para a incineração será reciclado”, afirmou o supervisor José Roberto Buck, que nesta segunda trocou a roupa do dia a dia pela de faxina.
De acordo com o funcionário da rede, que cuida de 130 lojas, a marca d’água na parede chegou a 1,90 metro de altura. Não há data para a reabertura.
Segundo a Defesa Civil estadual, a chuva em Franco da Rocha chegou a 195 mm em 72 horas, entre sexta passda e domingo.
Para comparação, conforme o órgão estadual, na média, choveu 250 mm em todo o mês de janeiro do ano passado na Grande São Paulo. A prefeitura diz que choveu em 12 horas a metade do que estava previsto para o mês.(Fábio Pescarini – Folhapress)