Busca por profissionais altamente qualificados aproxima empresas das universidades
Por Agência Unico – Estadão Conteúdo
Companhias como EMBRAPA, Embraer e Unico desenvolvem projetos e iniciativas em conjunto com as instituições acadêmicas para o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras.
Desde a infância, Roger Leitzke Granada sempre gostou de estudar. Ele tem no currículo dois cursos técnicos, dois cursos de graduação, mestrado, doutorado e três pós-doutorados na área de tecnologia. Apesar desta paixão pelos estudos, ele nunca teve a pretensão de se tornar professor. Muito pelo contrário. Sempre desejou utilizar seu vasto e profundo conhecimento para resolver problemas complexos. Com isso, levou a sua experiência acadêmica para o mundo corporativo, atuando em projetos inovadores em companhias como a HP e, atualmente, trabalha na Unico, empresa de tecnologia que fornece soluções seguras e confiáveis para validação da identidade real das pessoas. “Eu sempre gostei de trabalhar em soluções. Então, vi no mercado corporativo uma oportunidade de atuar em empresas e negócios que valorizam a pesquisa”.
Assim como Roger, profissionais com abrangente conhecimento acadêmico são cada vez mais procurados por empresas que desenvolvem soluções inovadoras com o suporte da tecnologia de ponta. Em um mundo globalizado, esse caminho permite competir em igualdade com as companhias de outros países, onde a ponte entre o acadêmico e o corporativo já está mais consolidada.
Atualmente, centros universitários de referência no Brasil são procurados pelas grandes empresas, conectando esses “dois mundos” em ações benéficas para todas as partes. Dessa forma, muito mais do que reduzir a carência do mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI) por mão de obra, essa união de forças facilita o desenvolvimento de projetos inovadores, competitivos e únicos, além de contribuir para a formação de talentos.
Relacionamento forte e duradouro
Estudo recente da Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes) constatou que o Brasil está na 10ª posição entre os países com maior investimento em TI, com US$ 49,9 bilhões em 2023 e participação de 2,4% do PIB. A expansão do setor, porém, esbarra na necessidade de colaboradores altamente qualificados. “Normalmente é mais fácil encontrar este perfil em pessoas que concluíram mestrado ou doutorado, pois elas estão acostumadas a propor soluções inovadoras e relevantes para problemas complexos Além disso, tais profissionais estão sempre buscando atualizações de novos métodos e técnicas, o que ajuda a desenvolver novos produtos baseados em novas tecnologias”, destaca Roger.
Apesar de aparentemente fácil, esta conclusão nem sempre foi óbvia. Deixando de lado algumas iniciativas pontuais de aproximação, o mercado e os centros universitários nem sempre estiveram “do mesmo lado”. “Quando entrei na Unico, notei que existia uma lacuna enorme entre o que se desenvolve na academia e o que se cria numa empresa de tecnologia de ponta. Entendi que teria muita coisa para aprender ainda”, relata Roger.
Na Unico, o profissional faz parte de uma equipe de pesquisadores e atua principalmente no desenvolvimento de um motor biométrico próprio. “Durante o meu período de doutorado fiz um estágio de verão em um dos institutos de pesquisa mais conceituados da Europa, o Fondazione Bruno Kessler, na Itália. Ali, pude perceber que os brasileiros têm tanto conhecimento quanto os pesquisadores de outras nacionalidades. Por isso, acredito que uma empresa brasileira tem total capacidade de competir de igual para igual no mercado internacional. Por exemplo, na Unico, temos profissionais capazes de desenvolver produtos que poucas empresas no mundo conseguem fazer”, destaca.
Benefícios para as universidades
Assim como é produtiva para as companhias, essa aproximação é benéfica também para o mundo acadêmico, é o que pensa Marcelo Camanho, doutor na área de Computação Gráfica.
“A vivência das empresas pode ajudar muito na academia, permitindo que os pesquisadores consigam usar soluções práticas e escaláveis para a validação de ideias e hipóteses. Por exemplo, na minha dissertação, os conhecimentos de softwares distribuídos e a vivência real me ajudaram a formular a minha hipótese, assim como contribuíram na hora da validação, quando codifiquei algo”.
Aproximação na prática
Muito mais do que “garimpar” talentos nas salas de aula, as empresas cada vez mais desenvolvem projetos em parceria com grandes centros universitários. Professor sênior do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) e conselheiro da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), José Carlos Maldonado atualmente é consultor do Unico Academy, um programa que busca transferir conhecimento atualizado do mercado de TI para estudantes e profissionais ligados à vida acadêmica, principalmente mestrandos e doutorandos.
O especialista explica que essa aproximação já ocorre há muito tempo, mas em ações pontuais. “Alguns setores fazem isso há anos, como o agrícola, o aeronáutico e o petrolífero, por exemplo. Mas no universo de indústrias de TI ainda vemos poucas dessas iniciativas”, constata.
Hoje, porém, essa aproximação está cada vez mais intensa em setores relacionados ao desenvolvimento de novas tecnologias. “É importante ter profissionais bem treinados, com a capacidade de evoluir e aprender constantemente”. Desta forma, surgem no mercado iniciativas que atuam para aumentar a relação entre os centros universitários de referência no Brasil e as empresas.
Entre os exemplos, o especialista destaca a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com uma ampla rede de cooperação com as universidades; assim como da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), com resultados significativos conquistados com o fortalecimento da parceria com as instituições acadêmicas. Uma outra iniciativa de forte impacto é o CESAR, em Recife, com contribuições inovadoras e relevantes em TICs.
“Aqui na Unico, nós estamos implementando algo realmente diferenciado, pensando no ecossistema da empresa, por isso, consideramos a formação dos talentos, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Assim, temos os elementos da universidade e da indústria sendo expostos a problemas e criando soluções em um processo de desenvolvimento contínuo”, afirma Maldonado.
Segundo o professor sênior, estes são apenas alguns exemplos práticos que demonstram os benefícios de promover uma relação duradoura entre empresas e universidades.
Como funciona o Unico Academy?
O programa lançado pela Unico busca uma aproximação para o desenvolvimento de parcerias e desenvolvimento de projetos conjuntos com algumas universidades de destaque na área de tecnologia. Neste contexto, já foram realizados encontros com entidades acadêmicas do Estado de São Paulo, entre elas a USFCAR e o ICMC-USP, em São Carlos; a Unifesp, em São José dos Campos, e a EACH-USP, na capital. A empresa também tem encontros agendados com universidades das regiões Norte e Nordeste do País.
Na prática, o Unico Academy realiza encontros com os líderes de pesquisa e com os alunos de mestrado e doutorado das instituições para apresentar os temas técnicos com vivências e desafios reais encontrados no dia a dia da empresa. A iniciativa conta também com debates sobre os temas e apresentações sobre o ambiente de trabalho no setor de identidade digital e biometria facial.
A diretora sênior de Operações e Pessoas da Unico, Rafaela Provensi, explica que ações como o Unico Academy contribuem para que empresas encontrem profissionais com excelente formação na área e com perfil de resolução de problemas. “Estamos muito comprometidos com este programa, pois ele nos permite conectar as necessidades de negócio da Unico em relação a engenharia e dados, com a expertise e a capacidade intelectual dos talentos das universidades brasileiras”, conclui.
Foto: Pexels
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