Brasil terá tempo para se adaptar a acordo de redução de metano, diz Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou nesta quarta-feira (3) que o Brasil terá um prazo para adaptar sua agropecuária ao Compromisso Global sobre Metano.
O objetivo do acordo, assinado pelo país durante a COP26, é reduzir 30% das emissões globais de metano até 2030, em comparação com as emissões de 2020. No total, 96 países aderiram ao compromisso.
“Então temos um prazo para ir nos adaptando. E grande parte dos produtores já trabalha no sentido de fazer a coleta dos dejetos [do gado] e consequentemente depois a queima dos mesmos de forma que não contaminem a atmosfera”, afirmou Mourão, ressaltando que o problema da emissão de metano está associado, principalmente, aos excrementos da pecuária.
Ele também lembrou que o acordo internacional prevê financiamento para que os países emissores do gás se adaptem.
“A questão do metano está ligada aos excrementos da pecuária, principalmente. Nós temos um rebanho bovino enorme, então vai ter que haver uma adaptação, um planejamento para isso. Já existem empresas que fazem a mitigação dos dejetos do gado”, disse Mourão, ao chegar no gabinete da vice-presidência.
“Nos nossos quartéis, quando éramos um Exército quase todo a cavalo, a gente já fazia isso. Então existe know how, é só todo mundo se adaptar, uma questão de mitigação. E tem recursos envolvidos aí, pelo o que eu vi da ordem de US$ 12 bilhões, que estariam envolvidos para auxiliar os países nesse processo”.
Os signatários do Compromisso Global sobre Metano representam pelo menos 46% das emissões do gás e dois terços do PIB global, segundo análise do WRI (World Resources Institute). As emissões globais de metano também estão ligadas a fontes de energia fósseis como carvão, petróleo e gás. O acordo prevê a revisão anual do progresso da meta em encontro com ministros dos países signatários.
Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil resistia ao acordo, que implica a revisão de processos na pecuária. Segundo fontes ligadas ao alto escalão do governo federal, a pressão dos Estados Unidos nas últimas semanas foi decisiva para a adesão, que teve a concordância dos ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Agricultura.
Cerca de 70% das emissões do gás no Brasil estão concentradas no setor agropecuário, segundo dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).
Segundo a Embrapa, a maior parte das emissões de metano do setor agropecuário se deve à fermentação entérica dos bovinos, mas o uso de fertilizantes nitrogenados também gera emissões.
A atenção global para as emissões de metano disparou em agosto, quando o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) revelou que o metano é o segundo gás que mais afeta o clima global, respondendo por 0,5ºC do aquecimento global de 1,1ºC experimentado desde 1900.
O metano também é uma aposta para uma ação climática de curto-prazo.
Nesta quarta, Mourão declarou ainda que o governo brasileiro “está empenhado” e de acordo com o objetivo da comunidade internacional de impedir um aumento da temperatura na terra além de 1,5ºC. “[O aquecimento global] vai prejudicar países que têm oceano, vai prejudicar a questão da agricultura, ou seja, vai dificultar a vida aqui na Terra. Então o Brasil está fazendo a parte dele nesse sentido”.
O vice negou ainda que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha ficado “isolado” durante a cúpula do G20, realizado em Roma nos dias 30 e 31 de outubro.
Durante o encontro, Bolsonaro teve poucas reuniões bilaterais e não participou de visita organizada pelo premiê italiano, Mario Draghi, à Fontana de Trevi.
“Não vejo dessa forma [que Bolsonaro tenha ficado isolado], o G20 é uma reunião densa. Óbvio que existem as discussões técnicas antes, mas quando você reúne os representantes das 20 maiores economias do mundo, já vem com a agenda pré-preparada. O presidente participou, fez um discurso que eu considerei muito bom, no sábado [30] de manhã. Um discurso colocando de forma muito clara quais são os nossos objetivos, então essa questão de reuniões bilaterais acho que ali naquele momento não foi previsto”, afirmou Mourão. (RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF – FOLHAPRESS)