Bolsonaro recua e retira indicação de ex-chefe de gabinete de Ricardo Barros para comando da ANS

Em meio a denúncias de irregularidades na contratação de vacinas envolvendo o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), o presidente Jair Bolsonaro retirou nesta terça-feira a indicação para que um ex-chefe de gabinete do deputado assumisse a presidência da ANS (Agência Nacional de Saúde Complementar).
Paulo Roberto Vanderlei Rebello Filho (foto), atual diretor de Normas e Habilitação das Operadoras na ANS, havia sido indicado por Bolsonaro para exercer o cargo de diretor-presidente da agência em dezembro do ano passado e teria seu nome apreciado pelo Senado nesta semana.
Além de ter trabalhado como chefe de gabinete de Barros, quando o deputado foi ministro da Saúde do governo Michel Temer (MDB), Rebello também tem parentesco com um petista, o vereador no Rio de Janeiro Lindbergh Farias, que já foi senador.
Além de Barros, Rebello é ligado a outros nomes do PP, como o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), e trabalhou com Gilberto Occhi nos Ministérios das Cidades e da Integração Nacional.
A retirada da indicação foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na noite desta terça-feira.
“Solicita ao Senado Federal a retirada de tramitação da Mensagem nº 739, de 14 de dezembro de 2020, referente à indicação do Senhor PAULO ROBERTO VANDERLEI REBELLO FILHO, para exercer o cargo de Diretor-Presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, na vaga decorrente do término do mandato de Leandro Fonseca da Silva”, diz a mensagem 332, publicada como “despacho do presidente da República”.
A reportagem procurou Rebello no fim da tarde, quando ele disse ainda não ter conhecimento de que haveria um recuo em relação à sua indicação. No fim da noite, com a publicação da mensagem, ele foi novamente procurado, mas não se manifestou.
Em 25 de maio, Barros publicou em uma rede social foto com Rebello, já se referindo a ele como “presidente da ANS”.
“Paulo Rebello, presidente da ANS, na Câmara dos Deputados, para agir em sua brilhante função na Agência Nacional de Saúde Suplementar”, diz a mensagem do líder do governo na Câmara.
Este não é o primeiro nome ligado a Barros a ser sacrificado nos últimos dias.
Roberto Ferreira Dias foi exonerado da Diretoria de Logística do Ministério da Saúde em 29 de junho, logo depois de a Folha de S. Paulo publicar entrevista com Luiz Paulo Dominguetti Pereira, policial militar de Minas Gerais que diz ter recebido de Dias pedido de propina de US$ 1 por dose para negociar vacinas com o governo Bolsonaro.
Já a existência de denúncias de irregularidades em torno da vacina indiana Covaxin foi revelada pela Folha de S. Paulo no dia 18 de junho, com a divulgação do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o irmão dele, deputado Luis Miranda (DEM-DF), disse que Dias é quem dava as cartas no setor das compras do ministério. “Nada ali acontece se o Roberto não quiser.”
Dias prestará depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (7) para explicar o suposto pedido de propina e destrinchar dúvidas sobre aquisições da pasta durante a pandemia, especialmente a da Covaxin, alvo também da Procuradoria e do TCU (Tribunal de Contas da União).
Admitido em concurso público destinado a civis, Dias trabalhou até 2009 como controlador de voo no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais (PR), quando se candidatou e foi aceito para o cargo de assessor de investimentos em uma corretora de Curitiba, a CWBX.
Por cerca de dois meses, chegou a acumular as duas funções –controlador de tráfego aéreo e assessor de investimentos–, mas acabou optando pelo trabalho no mercado financeiro.
Em 2011, Dias deixou a CWBX e fundou, com um amigo, a Dax Cred Assessoria de Crédito e Cobrança. A parceria durou menos de um ano.
Com o fracasso da empreitada, prestou concurso público para a Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná), sendo aprovado para vaga reservada a afrodescendentes em fevereiro de 2012. Admitido como auxiliar administrativo, ele ocuparia a gerência dois anos depois.
Em fevereiro de 2015, o ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) assumiu a presidência da Cohapar, onde diz ter conhecido Dias. À época, o governador do Paraná era Beto Richa (PSDB). Sua vice era Cida Borghetti (PP), esposa de Ricardo Barros.
Cida assumiu o Governo do Paraná em abril de 2018, quando Richa deixou o cargo para uma mal sucedida candidatura ao Senado.
Para a Secretaria de Infraestrutura, ela convidou Lupion, que, por sua vez, nomeou Dias para sua chefia de gabinete. No dia 13 de junho daquele ano, Dias foi alçado ao cargo de diretor de logística da secretaria, chegando a participar de eventos ao lado de Cida.
Muito amigo do ministro da Secretaria-Geral da Presidência Onyx Lorenzoni, padrinho de casamento de seu filho, Lupion foi um dos articuladores da campanha presidencial de Bolsonaro no Paraná em 2018.
Com a vitória e a posse de Onyx na Casa Civil, no ano seguinte, Lupion passou a ocupar uma assessoria especial da Presidência e, posteriormente, a secretaria Especial de Relacionamento Externo da pasta.
Na função de assessor especial, Lupion foi consultado pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre indicações para o Departamento de Logística. Sugeriu o nome de Dias, que também recebeu apoio de Barros.
Com a saída de Onyx da Casa Civil em fevereiro de 2020, Lupion foi transferido para a Saúde, para assessoramento de Mandetta no enfrentamento da pandemia. Dois meses depois, Mandetta foi exonerado, e Lupion também deixou o ministério.
Dias, porém, foi mantido, sobrevivendo aos três sucessores de Mandetta. (Daniel Carvalho – Folhapress)

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