Bolsa fecha em baixa e dólar sobe mais de 1% com crise bancária nos EUA; Petrobras recua 3%
O Ibovespa oscila próximo da estabilidade, enquanto os índices em Nova York sobem na tarde desta segunda-feira (13). O dólar também apresenta valorização frente ao real.
Os investidores ainda com muitas dúvidas sobre os desdobramentos da quebra do SVB (Silicon Valley Bank). Ao mesmo tempo, há a perspectiva de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) interrompa o ciclo de alta dos juros por conta da crise financeira.
Na retomada do horário de pregão entre 10h00 e 17h00, o Ibovespa fechou em baixa de 0,48%, a 103.121 pontos. O dólar comercial à vista encerrou o dia com alta de 1,17%, a R$ 5,267. Este é o maior fechamento para o câmbio desde o dia 9 de fevereiro.
No mercado de juros, as taxas apresentam quedas, seguindo também a tendência nos Estados Unidos, com a percepção de que a crise pode interromper o ciclo de alta dos juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 recuaram de 13,15% da última sexta-feira (10) para 12,99% ao ano. Para janeiro de 2025, a taxa caiu de 12,37% para 12,14%. No vencimento de janeiro de 2027, as taxas baixaram de 12,64% para 12,46%.
Na última sexta-feira (10), os reguladores assumiram o comando do SVB, após um movimento de saques pelos clientes que somaram cerca de US$ 2 bilhões.
A sucursal britânica do SVB foi vendida ao HSBC, numa venda facilitada pelo governo britânico e pelo Banco de Inglaterra, anunciou o Tesouro britânico nesta segunda-feira (13).
Segundo o comunicado, os clientes do SVB UK poderão acessar seus depósitos e serviços bancários normalmente a partir desta segunda.
Mesmo com a garantia dada pelos reguladores de que os clientes teriam acesso integral aos seus recursos depositados no banco, a sensação no mercado é de que ainda restam muito mais dúvidas que certezas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garantiu nesta segunda-feira aos americanos que seu sistema bancário “é seguro” e que seus depósitos estarão disponíveis “quando precisarem”, após a falência do SVB (Silicon Valley Bank), especializado no setor tecnológico.
“Nesse momento, nossa primeira impressão é que não há similaridade entre o que está ocorrendo com o SVB e o banco Lehman Brothers, considerado um dos drivers para a crise financeira de 2008”, diz Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos.
Mas ele aponta alguns riscos que podem impactar todo o sistema bancário americano. “A despeito de ser uma instituição regional, não se pode desconsiderar que cerca de 30% dos depósitos nos EUA são feitos em bancos menores. Ou seja, há perigo de ‘transbordamento’ para bancos maiores, que deveria ser evitado pelas autoridades”, afirma o economista da Órama.
Para a equipe da Levante Investimentos, a velocidade em que a crise foi deflagrada chama atenção. Para os analistas, consequência do perfil dos clientes do SVB, composto principalmente por investidores em startups.
“Altamente conectados e acostumados a resolver tudo pelas redes sociais, esses capitalistas de risco acabaram provocando uma corrida ao SVB trocando comentários e alertas de maneira frenética”, diz a Levante.
Na opinião dos analistas da Levante, o caso do Signature Bank, de Nova York, que também teve falência decretada dois dias depois do SVB e as preocupação com o First Republic Bank ainda deixam muitas dúvidas sobre a extensão da crise.
“Se a linha de socorro criada pelo Fed for capaz de tranquilizar investidores e depositantes, a crise que veio rápido deverá ir embora rápido. No entanto, se houver um temor de que os juros altos vão fazer mais vítimas, desta vez não será diferente: haverá muitos prejuízos”, diz a Levante.
Com tantas dúvidas, os índices de ações em Nova York oscilaram bastante durante o dia, e fecharam sem direção única. O Dow Jones encerrou com queda de 0,28%. O S&P 500 recuou 0,15%. O índice Nasdaq fechou em alta de 0,45%.
Segundo dados da Reuters, os operadores veem uma probabilidade de 15% de que o banco central dos EUA deixe as taxas inalteradas no final deste mês.
O Goldman Sachs disse nesta segunda que não espera mais nenhum aumento na reunião do Fed que termina em 22 de março, “à luz do recente estresse no sistema bancário”.
Se o Fed pode ter espaço para amenizar sua política de contenção da inflação, o Banco Central do Brasil pode ter menos espaço para cortar os juros, segundo Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.
“Um cenário de maior aversão ao risco e forte desaceleração na economia global podem pesar negativamente na atividade e nos ativos brasileiros, inclusive o câmbio”, afirma Feris. A desvalorização do real pode encarecer as importações, e pressionar os preços ao consumidor.
Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, tem uma perspectiva diferente. “Caso se confirme um comportamento mais brando do Fed nos juros, os juros dos títulos americanos caem e existe uma possibilidade de fluxo maior para mercados emergentes, como o Brasil, que abre espaço para queda do dólar”, diz Cardozo.
A crise desencadeada pelo SVB tem impactos também no preço do petróleo. O barril do tipo Brent chegou a ficar abaixo dos US$ 80 nesta manhã. Às 17h20 (horário de Brasília), o barril tinha queda de 2,85%, a US$ 80,42. As ações da Petrobras seguiram de perto a cotação do produto, caindo mais de 3%. A ação ordinária da PRIO caiu mais de 4%, e a da 3R Petroleum, mais de 5%.
(Renato Carvalho – Folhapress /Foto: Pexels)
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