Bolsa cai 2% com tombo da Petrobras e temor de juros nos EUA
Investidores chegaram ao final desta semana reconsiderando suas expectativas de que a inflação mundial e, principalmente, nos Estados Unidos, teria atingido o seu pico. Essa sensação enfraqueceu a esperança de parte do mercado de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) poderia em breve diminuir a velocidade de elevação da sua taxa de juros.
A expectativa de juros mais altos atraiu investimentos para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e, consequentemente, valorizou a moeda do país, ao mesmo tempo em que prejudicou o desempenho dos mercados de ações nesta sexta-feira (19).
Na Bolsa de Valores do Brasil, a pressão negativa do exterior ganhou ainda mais força com a baixa de 5,06% das ações preferenciais da Petrobras, que exerceram a maior influência para a queda de 2,04% do Ibovespa.
O índice de referência da Bolsa de Valores caiu aos 11.496 pontos, o que o levou a uma desvalorização de 1,12% na semana, a primeira em queda após quatro altas semanais.
O tombo da estatal ocorreu no dia em que o governo passou por cima das regras de governança da Petrobras e elegeu para o conselho de administração da estatal nomes rejeitados pelo comitê interno e pelo próprio colegiado por existência de conflito de interesses.
A FUP (Federação Única dos Petroleiros) disse que vai à Justiça contra o que classificou como “descaso com a governança corporativa e abuso de direito do acionista majoritário”.
O tombo no dia do Ibovespa também ocorreu após cinco altas consecutivas e durante um mês em que, até a véspera, ele registrava ganho acima de 10%.
Após períodos de elevações consistentes, sobretudo em momentos de crise financeira global, é considerado normal um movimento de vendas de ativos valorizados quando há sinais de risco de desvalorização. É o que o mercado costuma chamar de realização de lucros.
Ações dos setores de commodities e bancário, que estão entre os ativos mais procurados por estrangeiros na Bolsa brasileira, lideraram as baixas nesta sessão. Vale e Banco do Brasil perderam 1,12% e 1,84%.
No mercado de ações de Nova York, o índice parâmetro S&P 500 caiu 1,29%.
No câmbio do Brasil, o dólar comercial à vista fechou o dia praticamente estável, com queda de 0,05%, cotado a R$ 5,1680. No acumulado da semana houve elevação de 1,85% contra o real.
A moeda brasileira, porém, diminuiu consideravelmente suas perdas ao longo do dia. Ela saiu do topo do ranking das mais desvalorizadas entre as divisas de países emergentes para fechar o dia entre as poucas que quase empataram com o dólar.
De modo geral, o dólar ganhou força em comparação às principais moedas.
Afirmações feitas na véspera por representantes do Fed sobre a necessidade de manutenção do aperto ao crédito para frear a escalada dos preços ainda ecoaram nesta sexta e ampliavam o sentimento de aversão ao risco.
Na quinta-feira (18), James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, disse estar inclinado a uma nova alta de 0,75 ponto percentual nos juros de referência dos EUA em setembro.
Elevações de 0,75 ponto percentual foram aplicadas nas duas últimas reuniões do comitê monetário do banco central americano.
Reforçando uma postura firme no combate à inflação, Esther George, presidente do Fed de Kansas City, chamou de exagerada a expectativa que rondava os mercados de que haveria redução no aperto monetário após sinais de que a alta nos preços poderia ter atingido o seu pico.
As declarações trouxeram um tom agressivo que não havia sido percebido com clareza na ata da última reunião de política monetária do Fed, divulgada na quarta (17).
A inflação acumulada em 12 meses até julho nos EUA é de 8,5%. Apesar de permanecer perto do seu maior nível em 40 anos, o índice de preços ao consumidor desacelerou no mês passado. Em junho, a alta era de 9,1%.
Dados do Departamento do Trabalho dos EUA divulgados na quinta mostraram que o número de americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego caiu na semana passada.
A geração de vagas de emprego é um dos indicadores de que a economia segue aquecida e, portanto, de que os preços vão continuar subindo.
(Clayton Castelani – Folhapress/ Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)