Assembleia da Petrobras aprova Coelho, mas governo perde mais uma vaga no conselho
Em uma assembleia confusa, o governo sofreu nesta quarta-feira dura derrota no processo de renovação do conselho de administração da Petrobras. Conseguiu incluir seu indicado para comandar a companhia no conselho, mas perdeu mais uma cadeira para os acionistas minoritários.
Poucas horas antes do encontro, o MME (Ministério de Minas e Energia) decidiu retirar da pauta do dia item que tratava de mudanças no estatuto da companhia com o objetivo de melhorar a governança, o que o mercado interpretou como mais uma tentativa de ingerência na empresa.
A retirada ainda não havia sido confirmada até a publicação da reportagem.
No encontro, o governo tentava aprovar oito conselheiros, incluindo o indicado para presidir a Petrobras, José Mauro Coelho (foto). Com forte mobilização dos minoritários, porém, conseguiu apenas nomear seis -os indicados Carlos Eduardo Lessa Brandão e Eduardo Karrer não tiveram votos suficientes.
Responsável por aprovar estratégias e nomeações para a diretoria da estatal, o conselho da Petrobras tem 11 cadeiras, uma delas reservada a representante dos empregados da companhia, a engenheira Rosângela Buzanelli.
Outras duas são reservadas a minoritários, que nos últimos anos acabaram elegendo três representantes, avançando sobre uma das vagas da União. Em 2021, eles tentaram mais uma cadeira, mas não obtiveram sucesso.
Desta vez, a mobilização surtiu efeito, com a eleição de quatro representantes dos minoritários: Francisco Petros, Marcelo Mesquita de Siqueira Filho, Marcelo Gasparino da Silva e João José Abdalla, banqueiro conhecido como Juca Abdalla e um dos líderes do movimento.
Os minoritários entendem que um número maior de conselheiros lhes garante um poder maior de fiscalização contra interferências do governo nos negócios da companhia, como o represamento de preços dos combustíveis, por exemplo.
Do lado do governo, além de Coelho, foram eleitos o novo presidente do conselho, Marcio Weber, Luiz Henrique Carolli, Murilo Marroquim, Ruy Flaks Schneider e Sônia Villalobos. Os três últimos já eram membros do colegiado.
A indicação de Coelho para presidir a companhia, porém, ainda depende de reunião do conselho de administração, que deve ser realizada nesta quinta-feira, data inicialmente prevista para sua posse.
A aprovação do conselho conclui um conturbado processo de escolha de nomes pelo governo federal, que recebeu negativas dos dois primeiros indicados aos cargos, Rodolfo Landim e Adriano Pires, diante de questionamentos sobre conflito de interesse.
A escolha de Coelho pelo acionista controlador foi feita a pouco mais de uma semana da assembleia. Seu nome só foi aprovado pelo comitê da Petrobras que avalia os currículos dos candidatos na terça-feira passada.
No encontro, os acionistas aprovaram também as demonstrações financeiras da empresa em 2021 e a proposta de remuneração da administração, que separa R$ 13,1 milhões para pagar bônus a diretores da empresa por lucros nos últimos anos.
A assembleia foi iniciada às 15h, mas não havia sido encerrada até às 23h. Ficou suspensa por horas para contagem dos votos até a descoberta de um erro na transferência para o sistema de votos de detentores de ADRs, segundo a empresa.
“Foi um erro do sistema, de cálculo”, disse o presidente da assembleia, Francisco Costa e Silva por volta das 21h40, quando o problema foi detectado. “Absolutamente involuntário, sem o intuito de lesar qualquer pessoa ou de proteger quem quer que seja”, completou.
Mais cedo, diante de questionamentos sobre os motivos da demora na contagem dos votos, ele chamou de “ilação irresponsável” afirmação feita por um acionista sobre a possibilidade de o governo estar mexendo com o resultado para evitar a eleição de um representante dos minoritários em vaga destinada à União.
A pauta previa a aprovação de mudanças no estatuto que reforçariam a estrutura de blindagem da Petrobras contra ingerências em sua gestão, dando mais poder ao conselho de administração sobre a política de responsabilidade social e a nomeação do diretor de Governança.
O MME (Ministério de Minas e Energia), porém, tentava adiar a votação, alegando que não avaliou o tema previamente, o que é sua atribuição como ministério supervisor da estatal.
Segundo a página de transparência da Petrobras, porém, o diretor de Governança da empresa, Salvador Dahan, se reuniu com representantes do ministério no dia 11 de fevereiro para tratar de “estatuto social da Petrobras”.
Em nota, o MME (Ministério de Minas e Energia) diz que os temas “serão abordados em uma próxima oportunidade, pois as matérias deixaram de ser submetidas à apreciação do Ministério supervisor, conforme prevê a Portaria do Ministério da Economia”.
“O MME não pediu para retirar [o item da pauta], apenas não foi seguido o rito”, conclui o texto. (Nicola Pamplona – Folhapress/PD/Foto: Valter Campanato – Agência Brasil)