Asfalto cede e abre cratera na marginal Tietê ao lado de obra do Metrô
Uma cratera se abriu no asfalto na marginal Tietê, na altura da ponte do Piqueri, em São Paulo, na manhã desta terça-feira, bem ao lado da obra da linha 6-laranja do metrô. Segundo a Sabesp, uma tubulação de esgoto se rompeu durante a passagem de um equipamento que perfura os túneis do metrô. Ninguém ficou ferido.
A abertura do buraco causou transtornos. As pistas local e central, sentido rodovia Ayrton Senna, foram interditadas para veículos. A expressa acabou liberada para a circulação à tarde. A local deve continuar fechada por tempo indeterminado. Por causa dos problemas, o rodízio de veículos foi suspenso em toda a cidade.
O secretário dos Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, apontou o rompimento de uma galeria de esgoto como o motivo do alagamento e da abertura da cratera. “A obra vinha normalmente. Estamos na embocadura da tuneladora para esse poço. Seria rompido amanhã, quando teríamos o tatuzão passando pelo túnel. Daí, houve o rompimento da galeria de esgoto que passa no sentido transversal”, afirmou.
Segundo Galli, o tatuzão não chegou a perfurar a galeria que, por motivos ainda a serem esclarecidos, acabou se rompendo. “Houve o início de vazamento às 8h21. Os empregados saíram rapidamente. O que começou de maneira leve acabou rompendo. O solo não suportou o peso da galeria”, afirmou.
Galli disse também que a tuneladora passava três metros abaixo dessa galeria. Portanto, segundo ele, não houve um choque entre o equipamento e a tubulação de esgoto.
O secretário afirmou também que a falha será investigada. “De qualquer maneira, houve um rompimento, sim, e esse problema tem que ser investigado. Já estamos contratando uma auditoria para que identifique exatamente o que ocorreu e os responsáveis para que a gente possa tomar as medidas cabíveis”, explicou.
Galli reforçou no início da tarde que é preciso fazer obras com urgência no local. “O que é importante? Precisamos retomar a vida. Essa galeria precisa ser reconstruída e a marginal, retomada. E aí a equipe de engenharia da Sabesp já está aqui, fez as movimentações necessárias para evitar que viesse mais esgoto para cá e já parou”, disse.
Em nota, a Linha Uni e a Acciona, responsáveis pela obra da linha 6, afirmaram que, conforme as informações disponíveis, o acidente não “está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja” e que se trata “de um rompimento de um interceptor de esgoto”. Acrescentou no comunicado que o episódio não interfere nas demais frentes de trabalho, que seguem em execução.
Durante a tarde, 20 pessoas de todos os órgãos envolvidos com a situação participaram de um encontro para buscar soluções, segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos. “Após o esgoto ter sido totalmente escoado, será possível fazer um diagnóstico mais preciso do interceptor avariado e estabelecer prazos”, disse, em nota.
Segundo Galli, em um primeiro momento, não há perigo para empresas localizadas no entorno do poço. “Não vejo esse risco porque já parou, já tem estabilidade no que ocorreu. O túnel está estável, não há nenhum problema de engenharia verificado nele. Vai ser monitorado, acompanhado, para que não se propague”, afirmou. “Agora, para retirar o esgoto de dentro dos túneis, as equipes da Sabesp e da engenharia da [concessionária] Acciona estão prontas para que a gente faça da melhor maneira.”
Vídeos em redes sociais mostram a cratera alagada após o acidente desta manhã.
Com 15 quilômetros de extensão, a linha terá 15 estações e irá ligar a zona oeste à Brasilândia, bairro carente na zona norte. Por passar perto de grandes instituições de ensino superior na capital paulista, a linha ficou conhecida como “linha universitária”.
O governador João Doria (PSDB) se manifestou sobre o acidente, pelo Twitter, no fim da manhã desta terça. “Determinei apuração imediata das causas e elaboração de plano da concessionária responsável pela obra, junto à prefeitura da capital, para a normalização do tráfego da marginal [Tietê] rapidamente. E que as obras possam ser reiniciadas, com segurança, o mais breve possível”, disse.
No início da tarde, já no local, Doria falou a respeito do problema. “A engenharia da Acciona identificou que o problema foi de uma coletora da Sabesp. Eles atingiram uma coletora. Dadas as circunstâncias, foi o menor dos problemas. Poderia ser algo muito mais grave, não fosse essa circunstância específica de ter atingido uma coletora”, afirmou. “Felizmente, não tivemos nenhuma vítima”, completou.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse em visita ao local do acidente que a liberação da pista central da marginal Tietê depende do controle de uma tubulação de gás instalada no subsolo. “A Comgás já fechou a tubulação mas está monitorando para ver se há algum resquício de gás”, disse.
O prefeito disse também que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) elaborou um plano para organizar o trânsito no trecho interditado.
Também ao lado do canteiro de obras, o presidente da Acciona, André De Angelo afirmou que todas as medidas serão tomadas para saber as reais causas do ocorrido.
Em nota, a Linha Uni e a Acciona, responsáveis pelas obras da linha 6-laranja, afirmaram que suas equipes e demais técnicos foram ao local para apurar os fatos.
A Acciona é a empresa que assumiu em 2020 a PPP (parceria público-privada) com o governo estadual para a construção da linha-6 Laranja. A companhia é sócia majoritária da concessionária Linha Uni, dona da operação da futura linha de metrô até 2044.
Pela manhã, o Corpo de Bombeiros informou que ao menos dois trabalhadores tiveram que ser socorridos após terem tido contato com o esgoto. Todos os funcionários conseguiram sair da obra em segurança, segundo os bombeiros.
Segundo o projeto apresentado na retomada das obras, o túnel sob o rio Tietê tem 250 metros de extensão entre os poços de verificação de cada margem e passa cerca de 14 metros abaixo do leito.
O terreno onde foi escavado é formado por areia e argila. Quando em operação, haverá uma espécie de estacionamento de trens no local, em um túnel paralelo, com capacidade para duas composições.
Para fazer a escavação, é usado um tatuzão com cabeça de corte de 10,6 metros de diâmetro, revestida com chromium carbide, o material mais resistente conhecido até hoje. Como um todo, o equipamento tem cerca de 100 metros de comprimento.
A obra ficou famosa em 2010, quando uma moradora do Higienópolis, integrante de um grupo que protestava para impedir a construção de uma estação em seu bairro nobre, disse que o metrô levaria “gente diferenciada” à redondeza, se referindo às pessoas que usam transporte público.
A construção foi retomada em julho de 2020 após ficar paralisadas em 2016 por rescisão do contrato com as construtoras envolvidas na Lava Jato, no antigo consórcio formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC. (Willian Cardoso, Mariana Zylberkan, Alfredo Henrique e Carlos Petrocilo – Folhapress)