Apostas de Nunes para moradores de rua de SP incluem passagem para terra natal

 As apostas da gestão Ricardo Nunes (foto) (MDB) para resolver o problema dos moradores de rua na cidade de São Paulo vão do pagamento a entidades de assistência por produtividade ao fornecimento de passagens para que pessoas de fora voltem para suas cidades.
A cidade registrou a madrugada mais fria dos últimos cinco anos na quarta (30/6), aumentando a preocupação em relação ao contingente de pessoas em situação de rua, potencializado pela pandemia. Entidades chegaram a denunciar mortes de quatro pessoas por frio, mas a prefeitura diz que não houve nenhuma morte confirmada.
Oficialmente, a cidade conta com 24 mil pessoas nas ruas, mas as estimativas do verdadeiro número estão acima das 30 mil. A relação com os agentes públicos, muitas vezes, é tensa, marcada por queixas dos moradores de rua e criticas de entidades que acusam a prefeitura de higienismo.
O tema dos sem-teto tem sido frequente no discurso da gestão. Na segunda-feira passada, durante evento em que criticou um suposto discurso de direitos humanos que prega que a população possa ficar nas ruas, o prefeito Ricardo Nunes falou na possibilidade de ajudar pessoas que queiram voltar para suas cidades.
“Vamos fazer de tudo para ter um acolhimento mais humano, vamos ter nossos abrigos humanizados para que a gente possa com nossas equipes de abordagens convencê-los, aqueles que quiserem voltar para seus estados, municípios, desde que seja o desejo deles, a prefeitura pode ter condição de fazer”, disse.
A prefeitura já paga passagens para pessoas voltarem a suas cidades e estados desde a gestão de Gilberto Kassab (PSD). No entanto, pretende aumentar os locais onde pessoas podem procurar esse serviço, hoje feito apenas nos Cras (Centro de Referência de Assistência Social).
“No passado, nós compramos 566 passagens. Em 2019, foram 693 passagens. As pessoas pedem as passagens, a gente tem que fazer um estudo social e aí a gente concede. O que nós vamos fazer agora, acredito que um mês, um mês e pouco, esteja pronto, é que vamos descentralizar esse atendimento”, disse Nunes.
A prefeitura também pretende remodelar o sistema de pagamento dos órgãos que atendem a população em situação de rua. Em um evento em abril, integrantes da gestão chegaram a citar a possibilidade de se fazer uma espécie de parceria público-privada para atender essa população e citou um possível risco de “indústria da abordagem” no atual modelo de pagamento.
A secretária Berenice Gianella explica que, na verdade, os contratos hoje estabelecem um número de pessoas que devem ser abordadas e um território de atendimento. A ideia, disse, é mudar esse modelo.
Hoje, várias entidades realizam os diversos tipos de atendimento, mas pelo novo modelo apenas uma entidade poderia participar de todas as etapas.
“O que a gente estava pensando nesse novo programa era remunerar a entidade pelo sucesso que seria abordar a pessoa, trazê-la para o acolhimento e fazê-la sair do acolhimento com autonomia”, disse Gianella.
A gestão também pretende limitar espaços que hoje atendem mais de 1.000 pessoas para no máximo 200 e apostar na locação de prédios de hotéis desativados. “A proposta é que a gente trabalhe com grupos menores, que a gente acha que é um trabalho menor. Além disso, desde o ano passado a gente aumentou o número de assistentes sociais no centro de acolhimento.”
O processo de convencimento para que essa população vá aos centros de acolhida costuma ser difícil. Segundo a secretária, a aposta da gestão em melhorar esse processo se dá pela qualificação dos espaços.
Hoje, há vagas específicas para idosos, famílias e mulheres trans. A gestão vai criar uma unidade também para atender homens trans.
Com a pandemia, houve aumento da população em situação de rua e uma proliferação de famílias com crianças, gerando a necessidade de buscar alternativas em meio a um sistema pensado basicamente para atender principalmente homens solteiros. Daí a criação dos espaços familiares –apesar disso, a reportagem rodou pelas ruas e verificou que ainda há muitas famílias com crianças sem-teto.
A relação com os moradores de rua é tensa na cidade, com frequentes queixas de que eles têm seus objetos levados por equipes de limpeza. Em fevereiro, por exemplo, eles reclamaram de uma obra na praça Barão de Tietê, no Belenzinho, zona leste da capital, com a colocação de jardins elevados -que, na visão deles, foi feita só para retirá-los do local.
A prefeitura também instalou pedras debaixo do viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, na avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé. Diante da repercussão e das acusações de higienismo, a prefeitura montou operação com escavadeiras e marteletes para tirar pedras e paralelepípedos colocados sob as estruturas.
“Não é possível a gente passar aqui pelo centro e ver as pessoas deitada no chão molhado, frio, expostos à chuva, ao sol, e alguns com discursos pseudo de direitos humanos de que é digna aquela situação e que as pessoas para manter pseudo direitos humanos têm que ficar naquela situação. Eu não acredito nisso”, disse Nunes nesta semana.
Com a chegada do tempo frio, a situação se torna mais grave. “Na madrugada desta quinta-feira (1), 171 pessoas foram acolhidas, houve 83 recusas e foram distribuídos 200 cobertores. Desde 30/04, foram contabilizados 10.915 acolhimentos, 862 recusas e 9.737 cobertores distribuídos”, disse a prefeitura.
Segundo a gestão, na quarta-feira foi publicada uma portaria do Plano de Contingência para Situações de Baixas Temperaturas – 2021, que se aplica até 30 de setembro deste ano. “A ação é reforçada sempre que a temperatura atingir um patamar igual ou inferior a 13ºC ou sensação térmica equivalente”, diz a nota.
Segundo a prefeitura, no período de baixas temperaturas, foram criadas 340 vagas em clubes, sendo 200 no Clube Esportivo Tietê e 140 no Clube Pelezão, na Lapa. (Artur Rodrigues – Folhapress)

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