Após tombo da véspera, ações de estatais avançam nesta quinta-feira
Com a atenção dos investidores voltada para a discussão em torno da Lei das Estatais em Brasília, a Bolsa de Valores brasileira operou sob intensa volatilidade nesta quinta-feira (15), com destaque para o desempenho positivo dos papéis das empresas públicas Petrobras e Banco do Brasil.
A expectativa dos investidores de que alterações na lei que blinda as estatais de desmandos políticos encontre no Senado maiores dificuldades para avançar da forma como ocorreu na Câmara ajudou na alta das ações.
As ações da Petrobras tiveram uma sessão de ajuste nesta quinta e fecharam em alta expressiva -com ganhos de 2,55%, no caso das ordinárias, e de 2,65%, das preferenciais.
As ações haviam afundado 9,80% e 7,93% na quarta-feira (14), respectivamente, com a forte pressão como consequência do esforço do governo eleito para mudar a Lei das Estatais e, assim, facilitar nomeações de políticos para o comando de empresas públicas.
Além dos papéis da Petrobras, o Banco do Brasil, que recuou 2,5% no pregão passado, também teve valorização destacada, com ganhos de 2,83% nesta quinta.
Estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno afirma que favoreceu a alta das ações das estatais nesta quinta a expectativa do mercado de que as alterações pretendidas pelo governo eleito na Lei das Estatais encontre resistências no Senado.
“A leitura do mercado de que possa haver mudanças em relação às discussões sobre a Lei das Estatais no Senado pode ter ajudado esse movimento das ações, até porque o mercado reagiu de maneira bem negativa à forma como foi a aprovação na Câmara”, afirma Rostagno.
Apesar da contribuição positiva das ações das empresas controladas pelo governo, o índice acionário Ibovespa, que oscilou entre altas e baixas ao longo de todo o pregão, em um dia de fortes perdas no exterior, encerrou os negócios estável em relação ao fechamento anterior, aos 103.737 pontos.
No câmbio, o dólar, que na véspera fechou praticamente estável frente ao real, voltou a encerrar o dia com uma oscilação apenas modesta, em leve alta de 0,13%, cotado a R$ 5,3160 para venda.
No mercado de juros futuros, que embute as expectativas dos agentes financeiros sobre a condução da política monetária pelo BC (Banco Central) nos próximos meses, o dia foi de queda. O título para janeiro de 2024 cedeu de 14,07% no fechamento passado para 13,90% nesta quinta, enquanto o contrato para 2025 recuou de 13,84% para 13,59%.
Já os papéis da Vale avançaram 0,3%, acompanhando a alta do preço do minério de ferro, após notícias da mídia estatal chinesa de que o gigante asiático pretende adotar políticas de estímulos para aquecer o ritmo da atividade econômica na região.
Informações veiculadas pela agência oficial de notícias Xinhua deram conta de que a China estabeleceu planos para expandir o consumo doméstico e os investimentos.
A China pretende aumentar a escala de consumo e investimento para um novo nível até 2035, reduzir significativamente as diferenças de renda entre residentes urbanos e rurais e fazer progressos substanciais na diretriz de “prosperidade comum” do país, disse a Xinhua.
Ainda na Bolsa brasileira, destaque para a forte alta das ações preferenciais da Oi, que registraram ganhos de 52%, após a companhia informar que seu processo de recuperação judicial chegou ao fim depois de mais de seis anos de duração.
O encerramento do processo foi decretado pela 7ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro na noite da véspera, disse a Oi em comunicado. A empresa afirma que, no período, conseguiu pagar uma dívida de R$ 4,6 bilhões junto ao banco estatal de desenvolvimento BNDES, entre outros passivos.
Em menor magnitude mas também com alta expressiva, as ações da Restoque avançaram 8%, após a companhia de varejo de vestuário informar na noite de quarta-feira que seu conselho de administração aprovou proposta a ser apresentada a acionistas para uma mudança da marca da companhia, além de um aumento de capital de R$ 100 milhões e um grupamento de ações na proporção de 8 para 1.
A empresa, dona de marcas como Le Lis, Dudalina e John John, pretende mudar seu nome para Veste SA Estilo e, com isso, alterar o código de sua ação na B3 de LLIS3 para VSTE3.
BOLSAS NOS EUA E EUROPA TÊM FORTE QUEDA COM RECADO DUROS DO BCS
Nas Bolsas globais, as ações tiveram um dia de quedas expressivas nos Estados Unidos -o S&P 500 cedeu 2,49%, o Dow Jones teve perdas de 2,25% e o Nasdaq recuou 3,23%.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho afirma que os recados passados no dia anterior pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) sobre o impacto da alta dos juros na economia americana pesaram para o humor dos investidores globais.
Embora tenha reduzido o ritmo de alta dos juros de 0,75 ponto percentual nas últimas reuniões para 0,50 ponto no encontro desta quarta, a autoridade monetária dos EUA disse que espera aumentar ainda mais a taxa básica de juros e que deve mantê-la elevada por mais tempo do que o previsto anteriormente, sinalizando que seus esforços para conter a inflação alta provavelmente significarão um crescimento maior no desemprego e uma possível recessão.
As mais recentes projeções econômicas trimestrais do Fed mostram que as autoridades veem os juros em 5,1% no final do próximo ano. Em setembro, eles projetavam que 2023 terminaria com a taxa básica em 4,6%.
Na Europa, o dia também foi de queda aguda das ações, depois que o BCE (Banco Central Europeu) aumentou as taxas de juros pela quarta vez consecutiva nesta quinta-feira, embora em magnitude menor do que em suas duas últimas reuniões.
As ações da zona do euro registraram seu pior desempenho diário em seis meses nesta quinta, e retrocederam ao patamar de meados de novembro.
O índice de ações FTSE-100, de Londres, recuou 0,93%, o CAC-40, de Paris, cedeu 3,09%, e o DAX, de Frankfurt, teve queda de 3,28%.
O banco central dos 19 países da zona do euro aumentou a taxa de juros que paga sobre os depósitos bancários de 1,5% para 2%, afastando-se ainda mais de uma década de política monetária ultrafrouxa.
Mas a decisão marcou uma desaceleração no ritmo de aperto depois de altas de 0,75 ponto percentual em cada uma das duas reuniões anteriores do BCE, uma vez que a inflação mostra sinais de ter atingido o pico e com uma recessão se aproximando.
Apesar da desaceleração, o BCE prometeu novos aumentos e apresentou planos para drenar dinheiro do sistema financeiro como parte de sua luta contra a inflação.
“O Conselho do BCE considera que as taxas de juros ainda terão que subir significativamente a um ritmo constante para atingir níveis suficientemente restritivos para garantir um retorno oportuno da inflação à meta de 2% a médio prazo”, disse o BCE.
(Lucas Bombana – Folhapress /Foto: Danilo Verpa/Folhapress)
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