Novo diretor da PF decide trocar comando de setor que investiga Bolsonaro
A Diretoria de Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal passará por mudança mais uma vez e terá um novo delegado responsável, o quarto desde o início do governo de Jair Bolsonaro (PL).
A Dicor é uma das áreas mais sensíveis da polícia. A ela está vinculada a equipe encarregada de tocar os inquéritos que miram políticos que estão no cargo, incluindo o presidente da República.
Uma das investigações apura se Bolsonaro interferiu no comando da PF para proteger parentes e aliados, suspeita levantada pelo ex-ministro da Justiça e presidenciável Sergio Moro.
Essa é uma das mudanças já definidas pelo novo diretor-geral da Polícia Federal, Marcio Nunes (foto). Outras diretorias também vão ser trocadas.
O atual diretor é Luís Flávio Zampronha, que está no cargo desde abril do ano passado, quando Paulo Maiurino assumiu como diretor-geral.
Um dos nomes avaliados para substituí-lo é o do delegado Caio Rodrigo Pellim, atualmente na Superintendência Regional do Ceará.
As diretorias de Inteligência, Técnico-Científica e Gestão e Pessoal também devem mudar. As trocas devem ser formalizadas nos próximos dias no Diário Oficial da União.
A PF convive com uma série de mudanças desde o início do governo Bolsonaro. Márcio Nunes é o quarto diretor-geral em menos de 40 meses.
Na área de corrupção, a polícia registrou uma queda brusca de prisões no âmbito de operações nos últimos meses.
O jornal Folha de S.Paulo revelou que em 2021 foram registradas 164 prisões nessa área, uma redução de 60% em relação às 411 efetuadas ao longo de 2020.
Os índices mostraram que as prisões vêm caindo desde o primeiro ano do governo Bolsonaro, mas despencaram na gestão de Maiurino.
Após sua exoneração, o ex-diretor-geral postou foto de uma paisagem em uma rede social e escreveu que “navegar é preciso”. Em outra publicação, reproduziu o filósofo romano Séneca: “As grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: silêncio, paciência e tempo”.
Policiais avaliam que as trocas na cúpula impactam no trabalho não apenas pelas incertezas da política interna, mas também por mexer em níveis mais baixos da hierarquia da PF.
A área de combate à corrupção, segundo eles, é uma das que mais sofre reflexos da inconstância de comando. A queda no número de prisões, reduzidas no último ano ao nível mais baixo desde o governo do ex-presidente Michel Temer, corrobora a tese, dizem os policiais.
Nome mais cotado para comandar a Dicor, Pellim ingressou na polícia em 2003, mesmo ano da Operação Anaconda, uma das primeiras grandes operações com ampla divulgação que marcaram a história da PF na primeira metade dos anos 2000.
Desde então, Pellim passou por postos de chefia em diferentes estados do país. Trabalhou no Amazonas, onde chefiou o combate ao crime organizado.
Atuou também na repressão ao tráfico de drogas. Em 2010, participou de uma ação naquele estado que destruiu 1.550 pés de maconha em uma terra indígena. Foram presos oito homens, todos brancos segundo a PF, sob suspeita de extorsão, formação de quadrilha, tráfico de drogas e resistência à prisão.
Sob ameaças, os suspeitos expulsaram famílias do local e cobravam pedágio dos passageiros de embarcações, que utilizavam o rio Igapô-açú para ter acesso ao rio Madeira. A plantação foi feita às margens do Igapô-açú.
Acompanhado de um grupo de policiais descaracterizados, Pellim viajou de Manaus em uma embarcação, por 15 horas, para fazer o flagrante.
Nos últimos quatro anos, o delegado ocupa o cargo de superintendente regional. Primeiro em Rondônia, entre dezembro de 2017 e setembro de 2020; em seguida, no Rio Grande do Norte e, desde maio do ano passado, no Ceará. (Marcelo Rocha – Folhapress/Foto: