Casa Abrigo Lar da Mulher acolhe vítimas de violência doméstica

As lágrimas e a voz embargada ainda são as marcas de um ciclo de violência extrema que Beatriz (nome fictício), de 44 anos, não consegue esconder. Primeiro, foi um casamento de mais de oito anos em que ela chegou a ter costela e nariz quebrados. Depois de se separar, voltou a ser agredida até com um facão pelo novo companheiro. Traumatizada, Beatriz buscou ajuda e está vivendo, com a filha de 9 anos, na Casa Abrigo Lar da Mulher, mantida pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e sob gestão do RioSolidario em parceria com a Loterj. O espaço funciona como uma residência temporária de até seis meses, que acolhe e presta atendimento multidisciplinar a mulheres vítimas de violência doméstica sob grave ameaça e seus filhos menores de idade.

Com endereço sigiloso para garantir a segurança das vítimas, o abrigo tem capacidade para receber 60 pessoas de cada vez e, desde a sua inauguração em 2007 até julho deste ano, já acolheu 2.575 pessoas, sendo 1.064 mulheres e 1.511 crianças. De janeiro a julho de 2021, foram abrigadas 66 mulheres e 55 crianças. 

“Meu ex-marido me torturava de todas as formas. Consegui tomar coragem e dar um basta na situação depois que somei costela e nariz quebrados, cortes na boca, mordidas na cabeça e pelo corpo”.

Essa não foi a última vez que Beatriz foi vítima de violência doméstica. Ela está na Casa Lar da Mulher pela segunda vez. Fragilizada, chegou há cerca de um mês com a filha caçula e passa novamente por um processo de reconstrução emocional. 

“Aqui não cuidam só do nosso físico, eles sabem ouvir e tratar nossas dores emocionais. Se não tivesse encontrado esse apoio, estaria apanhando. Quero sair daqui e reescrever minha história de uma forma diferente, em um novo lugar e ao lado da minha filha”, conta.

Assim como Beatriz, Joana (nome fictício), de 32 anos, viveu momentos de pânico e foi acolhida na Casa Abrigo Lar da Mulher há dois meses. Espancada por quase cinco horas pelo ex-namorado, pensou que não iria sobreviver.

“Tive um relacionamento de cinco meses com um homem que conheci. Desde o começo ele não parecia ser violento, até que, após duas crises nervosas sem agressão física, começou a mudar o comportamento por ciúmes. Saímos uma noite, fui na casa dele e, quando percebi que estava alterado, resolvi correr para rua. Foi aí que ele me puxou pelo cabelo, pelos braços e começou a me enforcar. Em seguida, bateu minha cabeça em um carro, no chão e em grades. Por mais que eu falasse que não tinha feito nada, ele continuava. Pedi socorro, mas ninguém apareceu. Eu caía e desmaiava muitas vezes. Quando acordava, continuava apanhando. Ele começou à 0h30min e só parou às 5h”, lembra.

Após as agressões, a irmã e o cunhado de Joana foram os primeiros a prestar socorro. Encaminharam a vítima a um hospital, onde ficou internada e revelou o ocorrido à polícia. Na delegacia, fez um boletim de ocorrência e, por temer novos episódios de violência e não ter condições de buscar outro lugar para morar, foi encaminhada para o abrigo com os dois filhos. Agora, está na contagem regressiva para deixar o local na próxima semana e buscar uma nova oportunidade de reconstruir a vida.

Entre os serviços oferecidos na Casa Lar estão apoio psicológico, suporte jurídico, reintegração social e assistência hospitalar. Com um espaço de 1.300 metros quadrados, a Casa conta com 15 quartos, salas de atividades, berçário, lavanderia, biblioteca, refeitório e salão de beleza. Além disso, ações como grupos de reflexão, atividades lúdicas e relaxamento ajudam no processo de reconstrução das vítimas.

Diretora do abrigo desde 2009, Sueli Ferreira explica que encara o ofício como uma missão pessoal e profissional. 

“Aqui presamos pela convivência coletiva, sempre incentivando um acolhimento entre elas, que passam a ser família uma das outras. Então, todas estão na mesma situação. Por isso, precisamos que elas também se acolham. Nós, enquanto equipe, cuidamos da parte jurídica e da parte psicológica para que elas tenham a garantia do direito, da cidadania e da convivência coletiva. Desde julho de 2009, nunca mais desliguei o meu telefone celular, porque em qualquer dia e hora pode ter uma mulher em qualquer canto desse estado precisando da minha colaboração”, afirma a diretora.


Como é o encaminhamento

O local é voltado para vítimas de violência doméstica e risco iminente de morte. O encaminhamento ao espaço é feito por meio dos Centros Especializados de Atendimento à Mulher ou pela Central Judiciária de Abrigamento Provisório da Mulher (Cejuvida), que funciona dentro do plantão do Tribunal de Justiça. (Governo do Estado do RJ)

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